domingo, 22 de julho de 2007

PARA APRENDEREM UM POUCO DA HISTÓRIA DA CIDADE DE SÁ DA BANDEIRA (LUBANDO) - III

LUBANGO – EPOPEIA DE MADEIRENSES A 18 de Outubro de 1884 largava do Funchal o navio «Índia», rumo a Moçâmedes, com mais de duas centenas de madeirenses – homens, mulheres e crianças – os adultos, na sua maioria camponeses. Vinham iniciar o povoamento europeu do Lubango, dentro de um plano traçado pelo Marquês de Sá da Bandeira, Ministro da Marinha e Ultramar. Embarcaram cheios de esperança, confiantes nas promessas que lhes haviam sido feitas. Vivendo, quase todos eles, em condições precárias, acreditaram que, à sua chegada ao Planalto de Moçâmedes, como então era denominada a vasta região da Huíla, encontrariam aqui as Terras da Promissão. Em 19 de Novembro, o «Índia» ancorava em Moçâmedes com uma criança nascida a bordo. Foram, pouco depois, os madeirenses divididos em dois grupos. O primeiro, subindo a serra da Chela, alcançou a margem direita do rio Caculevar no dia de Natal; o segundo, no dia 18 de Janeiro de 1885. As duas viagens consumindo mais de um mês, em carros dos «boers», por caminhos acidentados, em períodos de chuvas, constituíram verdadeiro suplício. Chegaram tristes e vencidos pelo cansaço e mais desanimaram quando viram as instalações que lhes eram destinadas: quatro barracões amplos mas de pau a pique e cobertos a capim, que D. José da Câmara Leme, condutor de Obras Públicas, mandara construir, por ordem do Governador de Moçâmedes. Dois destes barracões eram reservados a casais e crianças; os outros dois aos seus filhos mais crescidos e a solteiros, um para rapazes outro para raparigas. Não seriam melhor os alojamentos de D. José da Câmara e Leme e do médico Rolão Preto, porque eram duas cubatas. Foi considerada como data oficial da instalação da Colónia de Sá da Bandeira o dia 19 de Janeiro de1885. Os pioneiros eram pobres, muitos deles gente de trabalho, outros não, mas nenhum esperava que se lhes deparasse uma situação de tanta promiscuidade e tristeza como aquela, onde estavam ausentes as mais elementares comodidades da época. Protestaram, praguejaram contra quem os iludira. Voltar ao ponto de partida era impossível. E nem eles desejariam, sem dinheiro, sem mantimentos e sem meios de transporte, reiniciar, em sentido inverso, uma caminhada tão longa e tormentosa como a anterior. O mar estava muito distante e ninguém seria capaz de se aventurar por lugares inóspitos como aqueles que haviam sido percorridos.
Coreto do Jardim Municipal onde mais tarde foi construida a Fonte Luminosa
Descontentes, chorosos, lamentando a sua desdita, desamparados e mais pobres do que na sua Ilha da Madeira, que saudosamente recordavam, ficaram. Não lhes era dada outra alternativa, nem sequer podiam decidir. Sentiam-se prisioneiros numa enorme prisão sem grades. E compreenderam bem depressa, alguns sob as ameaças e os castigos de D. José da Câmara Leme, que era homem de pulso forte e temido, outros aceitando as suas resoluções e observando os conselhos dos padres e das irmãs da Missão da Huíla, que tinham de arrotear e semear os campos, que o Lubango era a sua terra e a terra dos seus filhos. Os mais diligentes e mais abnegados lançaram-se à sua tarefa com ardor e entusiasmo. Seis meses volvidos, graças à tenacidade de D. José da Câmara Leme e à boa vontade da maior parte dos povoadores surgiam as primeiras moradias provisórias, espalhadas pelos campos verdejantes do Lubango, onde se fazia uma agricultura meramente de subsistência. Entretanto foram chegando mais madeirenses, uns em grupo, com passagens pagas pelo Estado, outros isoladamente, assim como vieram, de várias partes do território nacional, funcionários públicos, professores, homens de negócios e de profissões liberais, empregados do comércio e da indústria, agricultores e operários, acompanhados de familiares. A população europeia aumentou, a nativa também, o Lubango cresceu e progrediu, em setenta anos lentamente, mas depois a um ritmo impressionante, superior ao da maioria das cidades de Angola.
In: "Boletim Municipal da Câmara de Sá da Bandeira, 1971".

1 comentário:

Walter Aguiam disse...

Ao ler esta História da cidade de Sá Da bandeira ( Huila) reparei que desde a ida dos colinos madeirenses para Angola, que o nome do sr. Comendador António José de Almeida que muito contributo deu, não vem uma única vez mencionado, senão referência a tantas outras figuras de destaque da mesma época!
Que estranho!