domingo, 22 de julho de 2007

PARA APRENDEREM UM POUCO DA HISTÓRIA DA CIDADE DE SÁ DA BANDEIRA (LUBANDO) - IV

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NOSSA SENHORA DO MONTE
Os madeirenses que foram chegando em levas sucessivas imprimiam ao pequeno burgo, cada vez mais profundamente, as características indeléveis da sua terra natal, onde a devoção a Nossa Senhora do Monte é nota dominante da vida religiosa do povo. Por isso, nesse mesmo ano de 1901, um grupo de «colonos dirigiu-se ao então pároco de S. José do Lubango, Padre Manuel Francisco Pessoa da Luz, solicitando o seu patrocínio para a erecção duma capela em honra de Nossa Senhora do Monte, a poente da vila de Sá da Bandeira, na Povoação de Cima. No dia 6 de Outubro desse mesmo ano, os interessados, na companhia do pároco des1ocaram-se à Povoação de Cima, a fim de escolherem um local adequado para erecção da ermida. Apareceu-lhes então o «colono» António Firmino Júnior, propondo a venda de um terreno que possuía à entrada e à direita do actual Parque de Nossa Senhora do Monte. Foi aceite a sua proposta de venda do terreno e da casa que nele existia, tudo pela quantia de 44$380 reis Este mesmo grupo reuniu-se ainda no mesmo dia na residência paroquial, sendo eleita uma comissão constituída pelo pároco na presidência e os seguintes vogais: Pio Alberto Marques de Miranda, João da Ressurreição, Casimiro Caldeira Júnior, Ricardo Rodrigues, António Roque de Freitas e António Rodrigues Brunido, João da Ressurreição e Gualdino da Paixão de Sousa ficaram a desempenhar respectivamente as funções de tesoureiro e secretário. Aberta uma subscrição pública para angariamento de fundos, a referida Comissão adquiriu o terreno e começou as obras da capelinha. Parte do terreno era cultivado sob a orientação da Comissão de Nossa Senhora do Monte, revertendo os lucros em favor de melhoramentos que se iam efectuando no local. Orientaram as obras de pedreiro Jacinto Rodrigues e as de carpinteiro João da Silva. As obras iam prosseguindo vagarosamente. E foi junto da capela, ainda em construção, que o mesmo sacerdote celebrou missa campal. em 15 de Agosto de 1902, diante duma imagem de Nossa Senhora da Conceição da Igreja Paroquial. Foram estas as primeiras Festas de Nossa Senhora do Monte, celebradas em Sá da Bandeira. Entretanto continuavam as obras e os melhoramentos do local e seu acesso. Construiu-se uma estrada e desmatou-se a região. Crescia o entusiasmo entre os habitantes do burgo. A Comissão trabalhava sem descanso para levar a bom termo a sua incumbência. O tesoureiro João da Ressurreição, antes de partir para a sua terra natal em meados de 1903, timbrou em oferecer o baldaquino; o secretário Gualdino da Paixão de Sousa mandou construir à sua custa o altar e José Venâncio Ferreira Rodrigues fez oferta da imagem de Nossa Senhora do Monte, que em cumprimento de um voto, mandou executar na cidade do Porto e que lhe custou 72$000 reis. Esta imagem chegou a Sá da Bandeira em 29 de Junho de 1903. A Companhia dos Dragões do Planalto ofereceu o missal, alguns paramentos e o sino.
Em 10 de Julho tomava posse o novo tesoureiro João José Caldeira. enquanto as obras prosseguiam cada vez com mais entusiasmo. Pôde assim concluir-se aquela ermida que custou cerca de 2.200$000 reis, não contando com algumas dadivas em material. O novo pároco, Padre José Martins, devidamente autorizado pelo Bispo de Angola e Congo, procedeu à benção da capela em honra de Nossa Senhora do Monte, em 14 de Agosto de 1903. Do acto solene lavrou-se um auto, que foi assinado na presença de quase toda a «colónia», pelos seguintes nomes: Padre José Martins, Casimiro Caldeira Júnior, João José Caldeira. António Firmino Júnior, Eduardo da Costa e Gualdino da Paixão de Sousa. No dia seguinte celebraram-se as segundas Festas de Nossa Senhora do Monte: missa cantada, bazar de prendas e mais divertimentos com a presença de muita gente da cidade e de outras localidades de Angola. E as Festas de Nossa Senhora do Monte continuaram a celebrar-se com uma certa imponência, todos os anos no dia 15 de Agosto, por vontade da Comissão, a que continuou a presidir o Padre José Martins que, em 1916 se retirou para a Metrópole. Entretanto, também a morte foi ceifando os vogais Ricardo Rodrigues, António Rodrigues Brunido, João José Caldeira e Ant6nio Roque de Freitas. Por isso, em 19 de Novembro, foi escolhida nova Comissão constituída pelo novo pároco Padre Claudino de Nazaré Brites, Manuel Joaquim Fernandes, Jaime Caldeira, António da Paixão de Sousa e Joaquim Roque de Freitas, que tomaram posse no fim da missa celebrada na capela de Nossa Senhora do Monte, em 25 de Dezembro. Em 1919, João Henriques de Azevedo resolveu agregar a si um grupo de cidadãos com o fim de substituir a velha capela por outra mais apropriada a construir no monte. O povo de Sá da Bandeira e dos arredores não se sentiu satisfeito. Os madeirenses pretendiam imitar mais perfeitamente as tradições da sua terra. A capelinha não se podia avistar de longe, como a Senhora do Monte da Madeira. No Parque estava muito escondida. Queriam poder olha-la das suas casas. Desejavam que a Senhora do Monte os visse a trabalhar nos seus campos e contemplasse as suas sementeiras para as abençoar. Ansiavam viver permanentemente sob os olhos de Nossa Senhora do Monte.
Esta nova Comissão era constituída pelas seguintes entidades : Dr. Alfredo Lobo das Neves. Américo Manjericão, Emídio Fernandes, Francisco de Meireles, José Maria da Costa Simões. Luís Marques de Miranda e João Henriques de Azevedo, que logo entraram com 900$ cada um para as primeiras despesas a realizar. João Henriques de Azevedo fez o projecto da actual capela, imitando a traça do templo de Nossa Senhora do Monte, na Madeira. Foi empreiteiro da obra Constantino Roumeliotis, que ergueu a actual ermida. O custo da obra elevou-se a 12.000$00, embora utilizando tijolo e madeira da antiga capela. A nova ermida ainda em vias de acabamento foi solenemente benzida em 16 de Agosto de 1921, sendo o auto assinado por: Padre Manuel António Dourado, Gualdino da Paixão de Sousa. Casimiro Caldeira, Jaime Mendonça Caldeira, Manuel Joaquim Fernandes e António da Paixão de Sousa. Houve missa cantada pelo Padre Henrique Aucopt e sermão pregado pelo pároco Padre Dourado. O terreno com a casa do local onde existira a antiga capela foi comprado por João Ricardo por 2 200$00. Às festas do ano seguinte veio presidir o Vigário Geral da Chela, Padre Benedito Mário Bonnefoux, que celebrou missa solene, acolitado pelos Padres Pedro Topoaz e Manuel António Dourado. Seguiram-se outras comissões que tomaram a seu cargo a celebração das Festas de Nossa Senhora do Monte, todos os anos. E foi a partir de 1930 que a imagem de Nossa Senhora do Monte, no dia 15 de Agosto, era trazida em procissão da sua capela para outra improvisada no Parque, pois tornava-se difícil a muitos devotos, já velhos, subirem a encosta do monte escalavrado.
Em 1931 tomou posse uma nova Comissão constituída pelos seguintes indivíduos: Padre Manuel António Dourado, Gualdino da Paixão de Sousa, Carlos Teixeira Velosa, Raul da Paixão de Sousa e Francisco Baptista. Formou-se ainda uma Comissão de Melhoramentos constituída pelas seguintes individualidades: Dr. Alfredo Lobo das Neves, Luís Marques de Miranda, Emídio Fernandes, capitão Rogério de Paiva Cardoso, João Henriques de Azevedo, Serafim Simões Nunes, Jaime Moreira de Vilhena, José Maria da Costa Simões, Casimiro Caldeira, Manuel Gonçalves Lavadinha e João Pereira do Rio. Pretendia esta Comissão de Melhoramentos rasgar uma estrada de quatro metros de largura até ao meio da encosta, seguida de uma escadaria até à capela, um coreto, bazar e bar, em estilo árabe-oriental com influencias portuguesas. O conjunto ficaria integrado no Parque de Nossa Senhora do Monte, cujo projecto foi realizado pelo Dr. Luís Miranda. Foi ainda constituída uma comissão de senhoras que tomaram a seu cargo coadjuvar nos trabalhos de aformoseamento e de conservação da capela. Era formada pelas senhoras : D. Fernandina de Figueiredo, D. Olívia Simões Nunes, D. Maria Carolina Fernandes Simões, D. Judith Martins Braz e D. Maximina Fernandes.
Segundo o cronista que vimos seguindo, Zarco d'Almeirim, da Sociedade de Geografia de Lisboa, as Festas de Nossa Senhora do Monte, nos princípios da década de 1930 revestiam-se de grande imponência e a elas acorriam todos os anos muitos forasteiros de toda a Província de Angola. Sá da Bandeira, elevada a cidade por Norton de Matos, em 1923, ia crescendo e expandindo-se. Tornava-se mais cosmopolita. As últimas comissões já se sentiam dominadas pelo desejo de urbanização. quando vislumbravam um Parque maravilhoso, que viesse lembrar o do Bom Jesus do Monte, em Braga. Entre 1919 e 1920, a Câmara Municipal abrira uma larga avenida, desde a cidade ate ao sopé do monte.
A certa altura a tradição das Festas de Nossa Senhora do Monte ia-se quase perdendo. Só alguns grupos de madeirenses teimavam em subir, todos os anos, em 15 de Agosto, até à sua capelinha, que continuou sendo a encarnação viva da saudade da sua terra distante, mas nunca esquecida. Depois da romagem piedosa, ficavam-se ali pelo Parque, meio selvagem, mas sempre belo, comendo os seus ranchos cozinhados à base de tradicionais pratos madeirenses. A romaria foi-se reduzindo a uma ténue chamazinha, que os velhos colonos teimavam em manter acesa e transmitir a filhos e netos em toda a sua pureza saudosa. Mas, em 1952, um grupo de homens bons desta cidade tomou a peito a tarefa de fazer reviver com todo o brilho a antiga tradição. A ténue chama teimosamente acesa transformou-se em fogueira que levou a sua luz a todas as terras de Angola. O seu entusiasmo comunicou-se à Câmara Municipal e encontrou valioso apoio e colaboração tanto do Município como do Governo do Distrito. Entidades oficiais e particulares deixaram-se empolgar pela ideia de fazer da romaria de Nossa Senhora do Monte as Festas da Cidade de Sá da Bandeira, imprimindo-lhes brilho e projecção que atraíssem forasteiros de toda a Província.
In: "Boletim Municipal da Câmara de Sá da Bandeira, 1971".

2 comentários:

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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